domingo, 6 de outubro de 2013

O mestre Cartola

      A obra de Cartola  não se restringe às 48 canções que compõem a obra lançada em vinil. Calcula-se que Cartola tenha composto mais de 500 músicas ao longo da vida – muitas delas, inéditas em gravações, possuindo apenas registros rudimentares.  
      As razões para que um compositor genial e fundamental para a música brasileira tenha demorado tanto para, primeiro, ser reconhecido, segundo, gravar sua própria obra, são típicas da nossa indústria musical, que via os compositores pioneiros da nossa música pouco atrativos em termos de mercado – uma inverdade que ficou comprovada quando do sucesso quase instantâneo dos LPs de Cartola – e também de Nelson Cavaquinho, Adoniran, Clementina, Carlos Cachaça.
     A vida de Cartola, como a de muitos compositores populares que viviam no Rio de Janeiro da primeira metade do século 20, com raras exceções, foi recheada de incertezas, altos e baixos, exploração. Como muitos compositores da época, vendeu sambas e parcerias a intérpretes que não compunham, mas acabavam faturando muito mais com a obra que na verdade, não lhes pertencia. Passou anos esquecido, foi dado como morto, até ser encontrado, por puro acaso, pelo jornalista Sérgio Porto, em 1956, trabalhando como lavador e guardador de carros, em Ipanema.
     Em uma época em que direito autoral era um conceito abstrato, mesmo tendo inúmeros sambas gravados, era comum que apenas lojistas, intérpretes, editores e empresários ganhassem dinheiro, enquanto o autor das músicas, geralmente ficava com migalhas.
Antes de morrer, contudo, Cartola foi reconhecido e viveu seus últimos anos, sempre ao lado de Dona Zica, com certa dignidade. Foi homenageado e festejado em vida. Quando morreu, era considerado um dos estetas geniais da música brasileira.
                                                           (Texto extraído da Revista Nova Escola)



     Os alunos mais novos, pouco sabem ou praticamente nada sabem deste grande compositor e cantor. Em um país, onde o samba é um dos principais estilos musicais, levar a poesia da música de Cartola aos  alunos, é reviver a história da música brasileira.
         Uma maneira de iniciar este resgate cultural é analisar e cantar a belíssima música:



Preciso me Encontrar

Letra: Candeia
Música: Cartola
Album: Cartola (1976)

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Depois que eu me encontrar...




Pão e poesia

     A poesia é " o nosso pão de cada dia", para muitos alunos de uma escola em Minas Gerais, esta frase é literalmente parte de suas vidas, pois os poemas  produzidos em sala de aula, ilustram os sacos de pão nas padarias. Nos lares, as pessoas todas as manhãs são alimentadas por pão e poesia.


Criolo - Não existe amor em SP

    Para tornar uma aula de Português bem interessante para os alunos, muitas vezes acostumados ao rap , hip hop, basta levar um pouco da música de Criolo para a sala, incentivando-os a analisar a bela poesia da música "Não existe amor em SP".

 

      Um pouco sobre Criolo:

 Aos 37 anos, 25 deles dedicados ao rap, Kleber Gomes, o Criolo, lançou seu primeiro álbum de canções, “Nó na Orelha”, em maio de 2011, com apoio da Matilha Cultural. Criolo é multi-talentoso. Compositor de canções contundentes e letras bem construídas, destila versos habilidosos como MC, sem necessariamente utilizar-se de rimas para tal, e profere vocais que surpreendem pela beleza e versatilidade.

     Paulistano nascido no bairro de Santo Amaro e criado no Grajaú, Kleber Gomes mune-se de agressividade, humor e delicadeza para criar seu “Nó na Orelha”. Com igual domínio compõe e entoa genêros diversos como samba, afrobeat, bolero, reggae, rap e romântico. Criador da Rinha dos MCs, uma das festas mais autênticas do hip hop dedicada às batalhas de improvisação, Criolo não deixa de representar sua raíz musical em “Nó na Orelha”.


     Desde o lançamento do disco “Nó na Orelha”, em maio de 2011, o MC, cantor e compositor Criolo já apresentou o repertório de seu premiado álbum em mais de 100 shows realizados no Brasil e em outros onze países. Depois de passar por Buenos Aires, na Argentina, e Nova York, nos Estados Unidos, tocou ao lado do ícone do ethio-jazz Mulatu Astatke em Londres, cativou plateias de todas as idades em Paris, Milão e Roma e integrou o line-up de um dos maiores festivais de música do mundo, o Roskilde, na Dinamarca. Apresentou-se pela primeira vez em Los Angeles e voltou a Nova York, dessa vez para tocar no festival Summer Stage, no Central Park, onde encerrou sua primeira e elogiada turnê internacional. A segunda turnê for a do Brasil, realizada em novembro e dezembro de 2012, passou por onze cidades em países como Alemanha, França, Inglaterra, Suiça, Bélgica, Portugal e Países Baixos.
 

 Não existe amor em SP


Criolo

Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro duas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus

A música interpretada por Criolo e Caetano Veloso

Primeira lição de poesia



Depois do temporal a fina e delicada gota que escorre da rosa púrpura é poesia?
E o sol queimando a terra cansada, sentida, sem vida é poesia?
A poeira rodopiando na ciranda do vento é poesia?
Com certeza, para muitos, essas seriam simplesmente cenas banais do dia a dia, mas a primeira e soberana de todas as lições sobre poesia é: observar através dos sentidos as imagens que nos cercam.
O cheiro bom do café quente coado ao amanhecer, há de despertar no viajante saudade de sua terra, da casa da avó, da distante infância e de emoções que não farão mais parte de sua vida. Isso é poesia.
O barulho do trem perdido na estrada de ferro, carregando bichos, pessoas, sonhos, provocando encontros e despedidas, também é poesia.
O gari que varre a rua, sob o sol do meio-dia; a dona de casa que ensaboa a roupa na mesma rotina torturante e o trabalhador que luta por dignidade também refletem o sentido poético.
A poesia é a arte de criar imagens e sugerir emoções, portanto estamos rodeados de poesia, pois cada um reinventa as suas sensações a todo instante.
Quem diz que não gosta de poesia, ainda não percebeu que a faz sempre, sutilmente, através do riso e da dor, da vontade de viver e do medo de morrer, do grito de revolta e do silêncio adormecido.
A princípio somos todos poetas. O que diferencia o poeta menor do poeta maior, é que enquanto um para na ponta da ponte e fica ali estático com o sentimento recolhido, o outro se joga no abismo, e vai engolindo, sentindo, metamorfoseando as suas emoções.
Aqui fica, então, a primeira lição sobre poesia. E qual será a segunda? Com certeza, terá a resposta aquele que tiver a simplicidade e a paciência de olhar para tudo infinitamente como se fosse a primeira vez.
                                                       (Marli Pizzi)

A poeta portuguesa Florbela Espanca

    Florbela Espanca (1894-1930), importante poeta portuguesa, viveu apenas 36 anos, tempo em que se dedicou à vida literária, produzindo obras de  riquíssimo valor poético. Os assuntos de sua poesia eram o amor, solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte.
      Ao poema Desejos Vãos foi dada uma melodia perfeita e cantada na voz da cantora Mariza:

      




Desejos vãos

 
Florbela Espanca

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e tensa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...



Poema e música

   Os  gêneros poema e música estão mais próximos dos alunos trazendo uma variante mais acessível da língua e da cultura.
     Estão ligados diretamente à sensibilidade e são capazes de adentrar no universo juvenil de maneira lúdica, estimulando o prazer de ler e de ouvir não só aquilo que conhecem, mas o que lhes parece, num primeiro momento, motivo de estranhamento, como o poema da poeta Florbela Espanca, cantado em forma de fado pela cantora portuguesa Mariza.